Deep Blue


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Organizada, o cacete.

Eu sou a pessoa mais bagunceira que conheço. Sei que as pessoas que moram ou convivem intensamente comigo ficam muito estressadas com isso. Mas tenho altos e baixos. Nos últimos meses em  que morei em Botucatu, me encontrava num estado de espírito extremamente organizado. E magra. Eu estava tão organizada e magra que tinha controle absoluto do que acontecia na minha conta bancária e cartões de créditos. Como isso aconteceu? 1) Fiz dieta. 2) Um dia acordei por volta das três horas da manhã e comecei a olhar pro teto. Pratiquei o ritual “vira para um lado, vira para o outro e continua ligada no 220 v”. Nada adiantava. Até que resolvi levantar, ir à cozinha, beber água, passar na lavanderia, pegar dois sacos de lixo e voltar para o quarto. Peguei todos os papéis, pastas, correspondências não abertas e espalhei no chão, sem medo de que aquela papelada toda ganhasse vida e me atacasse. Como uma verdadeira gladiadora de papéis, organizei tudo, dominei todos, liguei o computador na calada da noite, fiz cálculos no Excel e deixei tudo “dentro dos conformes”. Incrível como as coisas começaram a fluir na minha vida depois desse dia. Desde quando voltei para São Paulo, no começo do segundo semestre, não tive a menor paciência ou energia de organizar meus papeis, mesmo porque a minha vida profissional e pessoal andou bastante desorganizada. Voltei pra terra da garoa, ou melhor, terra do congestionamento e stress, numa decisão repentina e um pouco mal pensada, o que deixou minha vida flutuando por um tempo até que eu encontrasse um emprego fixo, um porto seguro. Mas hoje é dia 22 de dezembro, estou de férias e portanto, sem mais um pingo de desculpa para postergar a batalha contra os papeis. Então hoje eu a fiz. É incrível como meu quarto ficou um pouquinho mais leve. É bom jogar papeis no lixo. É bom desprender-se do pensamento, “ah, um dia eu vou ler esse panfleto sobre a história das borboletas da Malásia”, que está lá no meio da bagunça há cinco meses e você só pegou uma única vez para anotar o número de protocolo da ligação que fez para a TIM (que também nunca serviu para nada). Joguei coisas estranhas no lixo, por exemplo, minha agenda de 2011 (“mas o ano nem acab…”) Well, Game Over. Acabou sim, agora é só palhaçada e comilança. É incrível como a atmosfera do meu cafofo tornou-se mais leve sem tanta papelada. Talvez eu devesse praticar esse ato de caridade comigo mesma todo mês. É engraçada a sensação que tenho ao final de todo ano. Dois mil e onze chegou ao fim… cansei dele. É sempre assim. Ficou velho, cansativo. Quero um novo ano. É como um caderno novo. Adoro cadernos novos. Tem cheiro de material escolar novo, lembra tempos de escola. Você o abre pela primeira vez e pega uma caneta novinha e cheia de tinta para começar uma história nova, numa folha pautada branquinha. Pode até deixar o caderno velho na gaveta e nunca mais usá-lo. Pode até gostar do caderno velho, mas esse é novo. Você ainda não cometeu erros nesse caderno, sendo assim, tem a oportunidade de escrever nele uma história novinha, do jeito que você quiser. Sei que fazemos milhares de promessas para o ano seguinte, mas no entanto, cumprimos só algumas delas. Às vezes, nenhuma. Porém, temos sonhos para o ano que vem, também. E vemos essa “virada” como uma oportunidade de realizar os sonhos que não conseguimos realizar no ano velho. E também inventamos outros sonhos. E da mesma forma como começamos um caderno novo, escrevemos e desenhamos a nossa história do ano novo em nossas mentes. Sabemos que teremos altos e baixos, mas precisamos manter o foco nos altos, e esperar que assim seja, sempre, pois a esperança é a locomotiva da vida. Afinal, de onde surgem forças para seguir em frente nos momentos em que a vida nem é tão gentil assim? É da esperança.

Agora estou sentada no chão do meu quarto arrumadinho, com o laptop no colo, esperando o momento de sair para jogar… paintball. Mas eu estou morrendo de dor de cabeça, vontade de tomar sorvete e TPM, o que são desculpas plausíveis para não me juntar a uma turma de adultos determinados a voltar à infância por sessenta minutos, distribuir tiros de bola de tinta e sair com a bunda, a coxa e talvez o olho roxos da arena de paintball. Para piorar, eu vou ter que colocar uma roupa protetora nesse calor aconchegante… Sabe… eu preferia o Häagen-Dazs. Mas vamos lá… Talvez eu chegue à arena e amarele. O que não anula meu bravo espírito corajoso. Se eu retornar aqui amanhã, contando que amarelei, lembrem-se: eu já saltei de pára-quedas seis vezes.