Deep Blue


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Durante a insônia do Cão Alfa…

Na ausência do Humano Beta, o Cão Alfa fica com insônia. Aliás, o padrão insônia dela tem se repetido com uma certa freqüência ultimamente. E eu me pergunto o que leva um cachorro a ter insônia se está pouco preocupado com o valor das contas que tem a pagar e se o dinheiro vai dar ou não até o fim do mês? Engraçado como em tempos de praticar o desapego, o cão é mestre na prática, mas não faz a menor ideia de como praticar o desapego relacionado ao seu humano. É claro que eu fico preocupada e me pergunto se isso é só mais um sinal de velhice. A velhice é aquela coisa natural com a qual ainda não aprendemos a lidar direito. Hoje consegui assistir “O Pequeno Buda” até o fim, filme que recomendo a pessoas que como eu, se sentiram de alguma forma compelidas a estudar o Budismo. Vários ensinamentos de Siddartha Gautama são citados ao longo do filme, entre eles alguns referentes ao desapego. Percebo que esse é um dos grandes desafios desse ano: ver meu filho ir embora e a velhice tomar conta do meu cão mais um pouquinho. Nada é eterno, e se encontrássemos um pouco de paz para lidar com isso, tudo seria um pouco mais fácil. Agora o cão alfa dorme no meu travesseiro. E como faz aproximadamente duas horas que estou tentando fazê-la ficar quieta, estou sentada ao lado e não ouso me mexer.

Enquanto isso, entro no Facebook, esse vício humano dos últimos anos que se tornou a principal fonte de comunicação entre pessoas. Ainda prefiro o telefone ou visitas pessoais, mas como elas raramente ocorrem, eu apelo pro Mark Zuckerberg. E assim, confirmo a existência em massa de uma das coisas que eu denomino “Mal do Século XXI” (alguns deles): A histeria e o masoquismo. Nos últimos anos, escolhi ficar em São Paulo em feriados como Carnaval, Páscoa, Natal, e Ano Novo. Porque eu acredito que pegar a estrada só para “dizer que foi à praia” em feriados como esses é suicídio. Tempo de descida São Paulo – Praia Grande: 30 horas. Conheço alguém que demorou 10 horas para fazer Mongaguá – Santo André há dois anos, no ano novo. Sim, DEZ horas, para fazer um percurso que leva geralmente, uma hora no máximo. Sério, pra que toda essa histeria social “eu, paulistano, preciso ir pra praia no feriado e passar 10 horas dentro do carro comendo biscoito de polvilho”? (no final da viagem, o biscoito leva a ferro e fogo seu apelido “isopor”).  Eu não vejo onde isso pode ser divertido. Tire férias em outubro e vá para a praia. Bem mais saudável. Mas não ouse descer no dia 12 ou véspera de Finados. É suicídio.

Cão Alfa “apagou” mesmo no meu travesseiro. Preciso esperar que ela saia do sono alfa, entre em beta e caia em REM para que eu consiga me mexer. Enquanto isso, arrumo o que fazer no escuro enquanto Alfa e seu fornecedor de bifinhos clandestinos se entregam aos braços de Morfeu…


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Tempo de refletir

A insônia dessa véspera de quarta-feira de Cinzas nem é culpa da ausência do meu filho. É culpa da sonoterapia a qual me submeti nos últimos quatro dias de feriado. De uma forma geral, eliminando o fato da falta que sinto dele, foi muito bom. Revi amigos, passei com quem amo, comi muito chocolate sem culpa e dormimos como dois ursos do Ártico Sob Aquecimento Global, com o ventilador ligado. Tudo que fazemos ao lado de quem amamos é especial. Sou grata por ter uma pessoa que é meu companheiro há mais de sete anos e meio. Solidão é uma palavra quase inexistente na minha vida desde o momento em que nos conhecemos e agradeço a Deus por isso (aquele Deus, o Universal, com quem recentemente tenho tentado estabelecer algum tipo de relação). Porém, posso afirmar que a ausência da criança de dez anos que morou no meu útero por nove meses, ainda me machuca. Não da mesma forma como machucou há três semanas, mas dói, sim. É difícil compreender o motivo pelo qual ele escolheu trilhar por outros caminhos, mas procuro respeitar sua decisão, uma vez que é justa, partindo do ponto de vista dele. Ele simplesmente tem o direito de ter escolhido morar com o pai, por mais que a ausência dele torne meus dias estranhos, eu preciso aceitar. Acredito que toda essa reviravolta envolvendo minha busca por Deus não possa ter aparecido em momento mais oportuno que esse. Esse furacão interno está acabando e aos poucos, produz uma certa serenidade. Em primeiro lugar, decidi que é preciso livrar-me da culpa. Eu não quis isso. Eu não pedi que ele fosse embora. Ele sabe o quanto eu queria que ele estivesse comigo, e acho que fui bem clara ao expressar a faz falta aqui, diariamente. Ele sabe que pode voltar se quiser, portanto, a minha culpa deve acabar de forma definitiva em breve, uma vez que resolvi tirar de mim a responsabilidade por essa mudança. Uma vez que tiramos das pessoas as algemas que as prende em nós, termina o carma, o peso, a mágoa. A saudade diária é algo que nunca vou me livrar, mas é necessário aliviar do peso da responsabilidade por essa mudança para seguir em frente. Não importa o que acontecer daqui pra frente, existe algo imutável nessa história toda. Ele sempre será o meu filho. O que posso fazer agora é muito pouco: pedir luz para guiá-lo nessa decisão, e acima de tudo, proteção, pois toda mãe se sente completamente impotente longe do filho. Isso é algo que amedronta todas as mães do mundo, ainda mais quando seus filhos são ainda crianças. Ele sabe fazer muitas coisas sozinho, mas sei que não estou ao lado dele o tempo todo – agora menos tempo ainda – para lhe mostrar o caminho do bem, do certo, do justo e principalmente, o que julgo mais seguro. Sei que ele vai aprender centenas de coisas sem a minha orientação, ora por orientação de outras pessoas quando eu não tiver presente, ora sozinho. É claro que sinto meu papel invadido, é claro que tenho a sensação constante de ser mutilada, porém, uma vez que foi esse o caminho pelo qual ele mesmo resolveu trilhar, não há muito o que eu possa fazer, a não ser guiá-lo à distância e confiar nas energias do Universo. Toda proteção do mundo para você, vinte e quatro horas por dia, meu pequeno. Cuide-se. Estarei aqui, sempre que precisar.