Deep Blue


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Eu e o Mar

DEEP_BLUE

Uma breve explicação.

Agora há pouco, tentando desviar meus pensamentos negativos que tenho evitado com tanto esforço nos últimos meses, resolvi me dedicar a breve leitura dos meus blogs preferidos antes de me lançar à tediosa tarefa doméstica que uma pessoa de férias acaba por assumir de forma quase resignada. Encontrei então, o blog muito interessante de uma moça (e lamento por ter fechado o link sem querer, sem antes salvá-lo aos meus favoritos.). Ela descreve um pensamento muito interessante que me ocorreu enquanto eu assistia o “meu” filme do ano (lê-se, minha classificação pessoal),  Gravity 3D. Quando um astronauta observa a Terra do espaço, no silêncio do ambiente cósmico onde o som não se propaga, esquece que a maior parte daquela vastidão azul do oceano aparentemente tão tranquila sob a perspectiva espacial. é, na verdade, composta por ondas repletas de tormento, tempestades e perigo. Eu tenho uma relação de amor, respeito e temor pelo mar. O amor não é preciso explicar. Não acredito na existência de algum ser nesse planeta incapaz de amar o mar. O mar é lindo, e essa é uma verdade incontestável, não é necessário dissertar muito a respeito. O mar tem o poder de promover a paz. Aprendi que a inveja é um sentimento humano bastante primitivo, eu sei, mas quando vejo gaivotas sobrevoando o mar, às vezes conquistando altitudes escandalosas para um ser vivo, asas abertas, carona nas correntes de ar quente, livres, eu não me contenho. Morro de inveja. (Diga-se de passagem, eu morro de inveja de todas as aves de rapina. Peço desculpas por esse sentimento tão egoísta); o temor e o respeito. Eu tinha mais ou menos oito anos quando testemunhei um afogamento na Barra da Tijuca. Na época, o mesmo mar levou embora o meu balde azul. Fui buscar água na beira, logo onde termina o tombo, e ao escapar da minha mão, o balde fugiu de mim a tantos nós de velocidade que eu o assisti atingir uma área onde certamente eu teria morrido afogada em poucos segundos se tivesse ido buscá-lo. O mar da Barra é lindo e agressivo. Esses dois acontecimentos mergulharam tão profundamente no meu inconsciente, de tal forma que me fazem ter sonhos com o mar, mesmo depois de quase trinta anos. Tenho sonhos lindos e assustadores, tão surreais no sentido mais do que pleonástico da palavra, que são de difíceis descrição. Sonho com paredões altos na margem, que se formam de repente, com águas escuras, muito profundas, nas quais eu nado com aflição em busca de terra firme. Sonho com ondas gigantes, com espuma, com barulho do mar. Mas também sonho com mares calmos de águas muito claras, em dias quentes e ensolarados, capazes de trazer a paz que busco todos os dias num período tão curto de tempo enquanto meus olhos permanecem cerrados. São os sonhos que embalam a alma, trazem o calor necessário para o dia, e que ao despertar, fazem lembrar que talvez o meu lugar não seja aqui.


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Texto dos 34

Eu nasci ontem, dia 24 de Junho. E todo ano, tento renascer. Duas vezes.

Minha vida é música. Sendo assim, o Bono Vox gritou no meu cérebro hoje de manhã, a caminho do trabalho. O mais engraçado é não o fato de estar ouvindo U2 no momento em que isso ocorreu. Eu nem tenho a música em questão no meu celular. Aliás, eu não estava ouvindo música nenhuma quando o Bono gritou. Talvez, se eu não tivesse perdido dez minutos da minha manhã procurando meus fones de ouvido (que eu havia esquecido no trabalho), eu não teria prestado atenção que o vocalista irlandês estava só me avisando o fato que eu já conhecia bem: “You’ve got stuck in a moment and you can’t get out of it.” Em partes, Bono. Vou concordar em partes, Ok? É verdade, estou presa aqui, mas quem disse que eu não posso sair?

House acabou. House, o Gregory, sabe? E eu vou ser sincera, eu morri de inveja dele e do Wilson no final. House fingiu que morreu, subiu numa motoca e fugiu. Nossa, que vontade! Fingir que morri (menos pro meu filho, ele sempre saberia a verdade) e sumir por uns tempos, mas sem o Wilson, talvez sozinha. Esquecer um pouco das coisas que me magoam, aproveitar a vida e sentir o vento contra o rosto numa estrada desconhecida. Uma vez eu fugi sozinha. Não com a minha Harley Davidson, claro, achei melhor deixá-la na garagem. Fui de Celta mesmo. Fugi para a casa da minha amiga, numa cidade de 15.000 habitantes, acho. Mas engana-se você que pensa que fugi de mim mesma. Pra falar a verdade, lá eu encontrei comigo, assim, dei de cara, não deu nem pra disfarçar. Minha amiga sabe bem disso.

Cadê a força para acreditar que esse momento no qual me encontro stuck, é passageiro? Hoje um amigo me pediu paciência. Eu estou cansada de ter paciência. Ou talvez, eu nunca tive paciência. Estou ali, de braços cruzados, olhando no relógio, sentada num murinho, balançando as pernas impacientemente. Vai ver que é isso.

Move, darling. Salte do murinho, bata a poeira das mãos e diga para você mesma: “Vem comigo. Depois te explico.”


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Tudo alterado

Às vezes, eu olho para a minha própria vida e tenho a sensação de que alguém alterou a minha realidade. Em que lugar da minha mente foi parar o script que escrevi da minha vida? Comecei escrever aos 10 anos, alterei aos 12, reformulei aos 15, queimei e reformulei aos 18, parei de escrever aos 20, reescrevi aos 23, quando me tornei mãe, joguei fora quando decidi que nunca mais teria outro filho, reescrevi novamente quando mudei de ideia e agora, com o script novamente montado, espero coisas acontecerem. Mas parece que essas coisas estão tão distantes… Eu passei os últimos anos desenhando e perseguindo sonhos. Estou exausta. Enfrento uma alucinação cansativa, constante: cada vez que esses sonhos parecem tão próximos às minhas mãos, algo é despedaçado, some, desintegra. Fico a “ver navios”. Ou nem isso. Fico a ver a selva de pedra da Avenida Paulista, pensando, “o que eu estou fazendo com a minha vida? Esperando?” Até quando? Será que não passou da hora de virar o jogo, ou talvez desistir? No mês que vem completo 34 voltas em torno do sol, a Terra gira, tudo muda, pessoas nascem, pessoas partem e minha vida continua bem morna. Mudo conceitos, mudo de religião, aprendo a viver com menos, pratico o desprendimento, medito, faço ohm, Yoga, zazen, digo que vou para o Nepal ver o Everest e meditar em um templo budista, mudo o comportamento, me observo, me policio, me controlo, mudo os tipos de livro que leio, mudo os valores que dou para todas as coisas. Esforço-me para aumentar o valor das coisas simples, busco a verdadeira razão do amor universal, reduzo a importância que têm as coisas supérfluas, e minha vida continua igual. Tento fazer as pazes com quem me odeia, procuro tentar amar pessoas que eu odeio (sou humana, ainda aprendendo a me ver livre da mesquinharia do ódio), e mesmo assim, o lado de fora permanece estático. Mudei por dentro, sim. Mas a verdade é que é grande a frustração de chegar aos (quase) 34 e achar que não realizei muitas coisas, e que sofri algumas perdas… A ausência do meu filho à noite deixa tum espaço enorme no seu próprio quarto. E nada do que faltava antes acontece para ajudar a preencher pelo menos, um pouquinho desse vazio.

Às vezes me pergunto se estou buscando a felicidade na coisa errada. Talvez, eu devesse mesmo desistir desse caminho e buscar um outro. Porque o meu coração está cansado demais. Diz Buddha que um dos caminhos para alcançar o Nirvana consiste em esvaziar tudo. Vai ver que é isso: talvez, na verdade, a vida está simplesmente removendo o véu para expôr a verdadeira face para a felicidade. E ouvi pessoas dizendo por aí que ela se torna inatingível sem a privação.


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Aí eu cismo que…

… que quero conhecer o Nepal. Isso mesmo. Nepal. Da mesma forma que eu havia cismado com a Austrália, até descobrir que lá moram umas baratonas de vinte centímetros. Comecei a pensar duas vezes. Pensei a terceira quando descobri que o mundo selvagem pode invadir as botas de quem habita Sydney e matá-los sem o menor escrúpulo. As aranhas australianas são muito perigosas e têm por hábito, infiltrarem-se em apartamentos, cantinhos, bolsos, roupas, sapatos, aguardando pacientemente a próxima vítima. Medo. Tenho mesmo. E foi nessa ideia recém-formada de busca espiritual que eu resolvi que um dia eu quero ir para o Nepal. Eu quero ver o Everest de perto. Não, eu não tenho a menos pretensão de querer escalar o Everest porque tenho noção do pulmão que tenho. Mesmo não sendo nada adepta à ideia de inalar nicotina, a menos de dois mil metros de altitude, nos Alpes Suíços, subi de bonde e meus lábios ficaram roxos por hipóxia, em 1996, pensei que eu ia desmaiar e dar o maior vexame Suíço, e olha que eu só tinha 18 anos. Eu não vou escalar o Everest aos 33. Em primeiro lugar porque eu não vou tão cedo para o Nepal, e em segundo, porque eu tenho noção da minha força muscular e principalmente, cardio-vascular. Sou muito saudável, porém, esqueça o topo do mundo, eu só gostaria de ver a majestosa montanha de perto. Quem sabe o que tem ali? Deus? Talvez. Talvez ali mesmo eu consiga senti-lo. Eu sei que eu posso entrar em contato com Deus olhando para a Lua, mas no Nepal deve ser diferente. Acredito que Deus está na Natureza, e não dentro de um templo. Não acho que Deus esteja somente no Nepal e não passa nem a pau perto do Pico da Neblina. Não é nada disso. Acho que é possível senti-lo não só observando a Lua, mas nas coisas mais simples, mas eu sinto essa necessidade sentir Deus em algo muito poderoso. Talvez o Nepal seja uma boa ideia. Outra forma de entrar em contato com a Entidade Maior seria pegando uma onda, como aqueles surfistas que têm uma sorte quase maldita de olhar para o lado e descobrir que está sendo acompanhado por um bando de golfinhos sorridentes. Morro de vontade de nadar com um. Onde teria mais Deus do que isso? Talvez, se no Nepal o ar não fosse tão rarefeito, eu gostaria sim de estar sozinha, no topo do Monte Everest, assim, ouvindo o vento congelante, em silêncio. Acho que lá tem isso. Deus. Mas enquanto não posso, desisto por hora das minhas ideias megalomaníacas e continuo buscando-o em lugares mais acessíveis, mesmo porque quem passou mal a menos de dois mil metros no Mont Blanc, não vai sentir muita paz a 8.844 m de altitude. O Nirvana não deve estar por lá, no topo da montanha. Não pra mim. Mas por que não logo ali embaixo?


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Acredite

No final das contas, nasce um sentimento libertador quando você se permite sonhar e se livrar daquela armadura de guerreiro da Idade Média que esfriou por um tempo o seu coração. É verdade que agora, com o coração tão exposto assim, você vai chorar mais. Mas vai também rir mais. A vida deve trazer algo bom, quando você decide que uma engrenagem necessita se livrar da ferrugem e retomar o movimento. Pode fazer da sua vida, o esboço que desejar. Não importa se o desenho final não ficar pronto no momento em que você mais queria. Nem sempre é fácil acreditar nos sonhos de olhos fechados. Causa medo, um pouco de angústia e dúvida. Será que eu vou mesmo conseguir? Livre-se da dúvida e acredite que você merece ter aquilo que tanto deseja. A propósito, quando decidir seguir em frente e perseguir os seus sonhos, jogue no chão todas as armas. E aproveite para fazer algumas coisas nessa estrada, cujo percurso não será tão duro, se assim acreditar: faça as pazes, perdoe as pessoas, perdoe-se, esqueça, livre-se do desnecessário, desapegue-se. Você não precisa de uma bagagem tão pesada para percorrer essa estrada. Coloque na mala só as coisas leves, aquelas que realmente valem a pena e que têm algum objetivo definido e útil. Mágoas, rancores, dúvidas, seu passado que não te serve mais e desejos de vingança apenas tornam o percurso penoso e atrasam a sua chegada ao seu destino…


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Sonhos

Eu sonho muito. Quando eu digo sonho, me refiro ao que acontece depois do instante em que apago a luz, deito e fecho os olhos. Meu cérebro não para de funcionar por pensamentos muitas vezes aparentemente inúteis e à noite meu subconsciente tece uma colcha de retalhos insana e passa como um filme em minha mente, que enxerga tudo distorcido enquanto alguém desliga meu estado de vigília. Eu consigo lembrar claramente de alguns sonhos. Tenho dificuldade de descrever alguns porque quando acordo, parecem mais um quebra cabeça de mil peças montado por uma criança de três anos.  Alguns temas se repetem e alguns fatos da vida real aparecem nos meus sonhos completamente distorcidos. Pessoas se misturam, trocam de papel, alguns traumas retornam como fantasmas. Alguns sonhos são megalomaníacos. Sonho com catástrofes, com fugas de tsunamis e algumas fobias que sofro. Sonho também com pessoas do passado, pessoas que já partiram, amigos que se afastaram e membros da família com os quais perdi contato. Às vezes sonho que volto para a escola, às vezes são pesadelos que remetem aos períodos de recuperação e ao fato ocorrido em 1994 quando fui reprovada no primeiro ano do Ensino Médio, por pura vagabundagem. Trauma? Acredito que não. É um mero arquivo. Sonho com perdas de pessoas que amo, que saio do meu corpo, vou até a janela do meu quarto e vôo para uma dimensão completamente diferente. Sonho que estou caindo de um prédio, saltando de pára-quedas na chuva, que consegui comprar meu tão sonhado apartamento, que estou caminhando numa estrada escura, sozinha, que estou fugindo de um assassino e preciso correr muito, que minha cachorra morreu, que meu filho sumiu, ou que estou numa sala cercada de centenas de baratas cascudas que vêm à minha direção. Sonho que meu avô aparece sorrindo na minha frente e me abraça (o meu favorito), sonho que meu noivo me deu um pé na bunda ou que o Brian May está tocando guitarra na minha frente, que estou devorando um monte de chocolate (e acordo morrendo de vontade). Sonho que entrei num avião com destino incerto e fui parar no Oriente Médio sozinha, no meio de uma cultura que me causa pânico, ou que fui visitar a Disney novamente. Sonho que caí no mar. O lugar onde estou nadando é muito fundo e tenho calafrios. Eu sei da onde veio esse sonho. Certa vez eu estava na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Naquela época, tinha aproximadamente sete anos de idade. A Barra é uma praia de tombo extremamente perigosa. Fui até a beira do mar buscar água num balde azul, que se soltou da minha mão e rapidamente foi parar num local muito fundo. Eu sempre morri de medo da Barra. De outras praias, não. Mas a Barra sempre me causou calafrios porque eu lembro que a água do mar “puxava” com muita facilidade. Vi um afogamento na Barra e era muito pequena. Um homem morreu ali, na nossa frente, acredito que foi um pouco traumático. Nesse dia em que perdi o balde, lembro de ter ficado na beira do mar e vê-lo se afastando até sumir e fiquei imaginando o que teria acontecido comigo se tivesse tentado nadar para alcançá-lo. Mais tarde, quando minha mãe perguntou, “cadê o balde azul?”, eu menti, disse, “não sei”, acreditando ter feito algo muito errado. Difícil entender o que se passou na minha cabeça infantil e por quê eu senti uma culpa tão grande por deixar o balde ir embora. Passei então a sonhar com uma certa freqüência, que estou em uma praia de tombo, na água, e não consigo voltar para a areia. Acredito que esse sonho, que se repete até hoje, tenha alguma ligação com o balde azul da Barra da Tijuca. Não sei. Pergunte ao Freud. Talvez ele explique.

É muita informação em um mesmo HD insano. Meu cérebro não tem limite. Quando acordo não consigo juntar as pecinhas desse quebra-cabeça e lembro de pedaços do sonho, como fotografias rasgadas ou textos inacabados. Lembro de palavras ao vento, pedaços de conversas, e nada faz sentido. E então me pergunto o que nos leva a passar 1/3 de nossas vidas (já que o dia tem vinte e quatro horas e teoricamente passamos oitos delas dormindo) num universo paralelo, numa realidade alternativa, acreditando no momento do sonho que aquilo é cem por cento real? Realmente, não há lógica alguma para a mente humana. E prefiro não ouvir explicação da psicologia. Prefiro deixar os sonhos onde eles realmente pertencem – a um universo surreal, muitas vezes inexplicável.