Deep Blue


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Aonde foi parar a fé?

Hoje acordei meio sem fé. Fé, sabe? Aquela coisa teoricamente inabalável que nos faz crer em tudo de olhos fechados. Eu até tentei fechar os olhos, mas um deles se abriu, assim, meio em dúvida, tentando, de repente, compreender de onde veio toda aquela fé cristalina de ano novo. Sumiu. Tenho aproximadamente doze horas para reencontrá-la e começar 2012 com a fé inteira cravada no peito, sem sombras. Só luz. Mas afinal, o que aconteceu comigo? Seria esse tempo chuvoso que me impede de ver a luz do sol que 2012 prometeu deixar brilhar? Seriam os fantasmas de 2010 e 2011 assombrando meus sonhos coloridos e tentando me contar que eu deveria deixar de ser louca? Por que eu não tinha medo de sonhar quando ainda estava “nos vinte”? Quem levou embora a minha fé? De repente, o medo contradiz tudo que foi dito nos textos anteriores. O medo diz que sou louca, querendo sonhar assim, de olhos fechados, com as mudanças de 2012. O medo diz que eu sou adulta demais para ser tão irracional assim. E ri da minha cara.

Vamos voltar ao mês de outubro. Tive uma oportunidade de emprego e a agarrei com muito medo. Eu deveria confiar mais no meu sexto sentido. Ele funciona na maioria das vezes. Eu disse para todo mundo que era uma bela oportunidade que esperei minha vida inteira. Sorri sabendo que tinha algo muito errado naquilo tudo. Não confiei no meu instinto e acabei quebrando a cara. No meio daquela angústia toda, comprei “O Segredo”. Sabe aquela sensação de acordar sentindo angústia avassaladora por conta da rotina do seu emprego? Sabe aquele calafrio que você sente quando está se aproximando do local de trabalho e inventa mil desculpas para postergar a sua entrada no recinto? “Vou ouvir mais um música antes de entrar. Vou tomar um café na padaria. Vou olhar aquela vitrine. Depois eu entro. Vou…” E nesse estado de espírito, o despertador da consciência e pontualidade me acordava e eu entrava arrasada. Depois de poucos dias, eu admiti, “cometi um erro.” Mas na verdade, eu não tinha muita escolha. E com essa fé inabalável que estou procurando nesse momento, consegui algo que me deixasse mais realizada num estalar de dedos. Essa é uma das provas que a força do pensamento funciona na minha vida. Mas então, o que está acontecendo comigo? Por que escrevo um texto cheio de fé e energia num dia, e no dia seguinte, acordo com a sensação de rolo compressor de massa de gnocchi passando por cima da minha fé? Tenho doze horas. Doze horas para colocar em prática o que “O Segredo” me ensinou. Doze horas para olhar no espelho e lembrar o tamanho da minha fé. Meio-dia para sair dessa angústia  apesar da chuva que me impede de ver o sol e acaba com os planos de tirar o telescópio da caixa. Devo lembrar que o sol e as estrelas nunca irão embora. Eles ainda estão ali, do outro lado dessas nuvens choronas ora cinzentas, ora branquelas. Doze horas para transformar essa chuva triste em esquema de lavagem do céu, da cidade e da alma. Que 2012 devolva toda a coragem de acreditar que eu mereço ter.