Deep Blue


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A fragilidade da existência

Passei a tarde refletindo sobre o relato de uma mulher, amiga de uma amiga minha, que eu não conheço, que teve uma doença rara que afeta o Sistema Nervoso. Essa doença chama-se Síndrome de Guillain-Barré, e eu nunca havia ouvido falar a respeito antes. Os sintomas são assustadores e a doença evolui rapidamente, causando paralisia e perda das expressões faciais. O relato da Cíntia, a moça que lutou bravamente por sua vida encontra-se no blog a seguir:

http://guillainbarre-cintia.blogspot.com

Li a história inteira da amiga da Tati Sato, a Cintia, muito tensa, e me emocionei bastante. Fatos assim nos colocam em perspectiva de nossas próprias vidas. Somos frágeis e nem sempre estamos no comando. Os acontecimentos que envolvem doenças graves e acidentes parecem realmente complicados sob o ponto de vida mundano. Acredito fortemente que “do lado de lá” tudo faz mais sentido, e sem o véu material, não duvido que seja possível enxergar todas essas coisas como fatos que fazem parte da vida de forma bastante normal e essenciais à nossa evolução. Mas enquanto estamos presos à matéria e dependemos dela para continuar por aqui como aprendizes, é difícil entender o porquê de tantas coisas. No dia em que a vida resolve que o tempo de aprendizado acabou, Game Over, passamos de ano, ou não. Às vezes, é necessário repetir tudo de novo. Só depende de nós. Alguns são capazes de aceitar a brevidade da vida porque têm muita fé em um futuro além da Terra, ou estão mais adiantados no processo de evolução espiritual. Outros não acreditam em nada, e ainda há aqueles que têm fé na vida espiritual, mas porque têm muitas dúvidas, têm medo. Como por exemplo… eu. Domingo passado, levamos um susto. Estávamos voltando da festa de aniversário de três anos do sobrinho do meu noivo, pela Rodovia Índio Tibiriçá, eu acho, quando um carro veio na direção contrária, invadiu duas pistas na contra-mão e ficou frente a frente conosco por alguns segundos, em alta velocidade, antes de voltar para a pista original. É certo que estava sob efeito de álcool ou drogas. Sabe aqueles segundos em que você sente que a alma saiu do corpo e voltou? Pois então, foi exatamente isso que eu senti. Eu não sei exatamente o que passou na minha cabeça nesses poucos segundos em que encaramos uma real exposição da vida ao perigo, mas sei que tinha algo muito a ver com a vida do meu filho de dez anos, sentado no banco de trás, que não percebeu o que aconteceu porque estava cochilando. Eu e meu noivo perdemos totalmente a cor no rosto, eu diria que ficamos bem parecidos com duas folhas de papel sulfite sem lábios (porque a cor da boca também sumiu). Demorou um tempo até que meu coração voltasse a bater normalmente e que eu compreendesse então, o quão frágil é a nossa vida. A experiência de vulnerabilidade vital da amiga da minha amiga durou muitos meses. A nossa durou alguns pouquíssimos segundos, mas o suficiente para lembrar-me o quanto amo estar viva. Acho que não somos eternos nesse mundo e acredito que nossa existência presente seja uma gota no oceano diante a eternidade do espírito. Mas mesmo sendo nossa existência plural, algo me faz querer continuar aqui nas redondezas terrestres ainda por muito tempo. A maioria de nós, humanos, tem aquela sensação de tarefas a serem cumpridas. Às vezes, sinto que o cumprimento da minha missão nesse mundo mal começou. Amo respirar, estar aqui, viver, sentir, ouvir, ver e usufruir de todos os meus sentidos. Tantas pessoas sofreram perdas de partes delas mesmas, e eu sou privilegiada porque sinto que ainda posso controlar um pedaço do meu futuro no que diz respeito a qual tipo de energia que quero criar em torno de mim e atingir as pessoas. Mas não posso controlar todos os acontecimentos. Portanto, a Cíntia – que provavelmente nem sabe que eu existo – me deu hoje, uma oportunidade de ser grata pela minha vida. Ela não sabe, mas hoje fez com que eu – uma desconhecida – passasse a refletir sobre o quão preciosa é a minha própria vida. Provavelmente, depois de ter lido esse relato fortíssimo, eu passarei a valorizar e desfrutar mais as pequenas coisinhas tão boas. Afinal, como é bom abrir os olhos todos os dias e poder fazer coisas simples, como por exemplo, poder sorrir, algo que ela foi impedida de fazer por muito tempo, por fatores alheios à sua vontade. Esquecemos de agradecer à vida pela saúde, pela proteção, por acordar todos os dias pelas manhãs e sermos senhores da nossa própria existência, porque não sabemos até quando seremos. Cíntia, não sei se um dia você vai passar por aqui e ler isso. Espero que não se importe de ter sua história compartilhada por uma pessoa estranha. Mas você me deu hoje uma enorme lição de vida.