Deep Blue


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Paciência

Eu sou difícil. Eu sei. Eu sou mimada, impaciente e quero tudo na hora. Não é a toa que o maior sonho na vida está demorando tanto tempo para se concretizar. Com certeza, eu tinha algo a aprender com isso. Para aprender a não ser difícil é preciso conviver e nutrir afeto por pessoas tão difíceis quanto eu. Algumas, irredutíveis. Outras, com altos e baixos de irredutibilidade. O que acontece ultimamente é que eu percebo que as pessoas costumam agir de forma muito parecida a minha e é claro que isso me faz olhar para o céu e dizer, “dai-me forças”, porque uma das coisas que mais odiamos é ver nossos defeitos espelhados no outro. Mais difícil ainda é quando colocamos uma energia incrível em prol da evolução pessoal, mas as pessoas aparecem perto de você dotadas de muitos escudos, esperando que você aja como antes. Muito difícil fazer as pessoas entenderem que você não vai dar mais soco, chute ou coice, mas cheguei à conclusão que não adianta explicar. E a culpa de se aproximarem armadas até os dentes é toda sua. Ainda há um agravante. Se você explicar que começou a tomar atitudes opostas àquelas que costumava, é bem provável que seja convidada a consultar um médico. O jeito é esperar, ter paciência, dar tempo para garantir a mim mesma e às pessoas que essa não é uma fase hipponga transitória, e sim um projeto que pretendo levar por toda a vida. Além do mais, não quero ser a única a me beneficiar por isso. Eu não quero vestir uma calcinha azul com estrelas brancas e uma coroa amarela com uma estrela vermelha (é, eu estou falando da Mulher Maravilha) e sair no meu avião invisível salvando o mundo. Eu quero realmente ter a oportunidade de fazer algo genuinamente humano. E para isso, preciso encontrar o equilíbrio, o entendimento. Enlightment.

Hoje eu fiz uma aula de yoga experimental simplesmente maravilhosa. Com meditação no final. Namastê! E fui também inspirada pelo lindo Keanu. Encarnando Siddharta Gautama.


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Metamorfose

Porque eu sou essa metamorfose ambulante, eu estava dando uma olhada nos templates do WordPress, porque às vezes eu gosto de mudar o visual, achei este e imediatamente lembrei do Lageado. Lageado é a “academia gratuita” onde no segundo semestre de 2010 eu perdi 18 kg fazendo exercícios (parcialmente BEM recuperados, infelizmente). É o um dos campus da Unesp-Botucatu, arborizado, cheio de verde e dotado de uma paisagem maravilhosa. Eu via tucanos no Lageado. Como sinto falta daquele lugar… Foram inúmeras as tentativas de fechar a boca desde agosto de 2011, quando voltei para São Paulo, mas infelizmente nenhuma delas foi bem sucedida. São Paulo é uma cidade cheia de estímulos visuais para quem gosta de comer, e é claro que uma pessoa que volta contra a sua vontade para a sua triste cidade natal, acaba caindo na tentação só de birra. Existe uma doceria em cada cantinho da cidade, e junto com isso meu desequilíbrio emocional e espiritual veio à tona. Eu havia enfrentado um inverno congelante que às vezes chegava a 1°C em Botucatu, mas mesmo assim me contentava com a banana no microondas com adoçante culinário e canela. Mas o apego à cidade recém-adotada, minha casa confortável e o emprego que eu gostava, causou uma avalanche interna muito grande e eu devo ter engolido 13 kg a de neve, porque foi exatamente isso que eu engordei. Para quem estava feliz e sentindo que havia atingido uma zona confortável perto do pico, eu rolei Everest abaixo e continuei rolando até aquele dia em que meu filho deixou de morar em casa. E a palavra do ano é “desapego”. Dizem por aí que a gente só evolui se cai, não é? Pois então, deve ter sido o meu caso. Muitas pessoas contribuíram para minha busca do equilíbrio interno, e uma delas, nem imagina como, mas quando tiver a oportunidade, preciso mesmo contar pra ela. No momento ela está longe. Depois, a minha inspiração culminou na música do Gilberto Gil e a Marisa Monte que se traduz em um mantra que recita o nome de Deus em vários dialetos e religiões, e a partir de então, foram só descobertas. E assim, eu entrei, no começo sem perceber, em conexão com uma filosofia que me fez querer mudar quase tudo que eu havia sido até aquele presente momento, transformar, evoluir, equilibrar, compreender, não brigar, não gritar, somente lutar quando as armas utilizadas fossem inofensivas. Muito difícil no começo, ainda muito difícil às vezes. Renunciar ao poço de fúria que você foi a vida inteira requer muito esforço, e é claro que na minha busca, eu ainda me traio deixando aflorar os meus instintos em algumas situações. Mas eu acredito que iniciamos um aprendizado para isso e eu quero atingir a serenidade que me falta. Um longo caminho que espero ter tempo para percorrer. Paciência é a palavra chave, da qual passei 33 anos fugindo. É chato ter que ter paciência. Mas no meio de tantas mudanças, se eu quiser chegar no meu objetivo, eu preciso de muita paciência. Comigo mesma e com aqueles à minha volta. Aliás, eu escrevi uma frase no Facebook, só de brincadeira, no dia do meu aniversário de 33 anos. Com todo o respeito que tenho por Jesus Cristo, um dos homens mais iluminados e bons que passou por aqui, eu disse: “Jesus Cristo foi crucificado aos 33 anos. Teria chegado a minha vez?” Ninguém me crucificou, e longe de mim comparar a minha vida confortável a de um espírito de alto escalão evolucionário. Ele está bem acima mesmo, afinal, alguém que luta pela paz em tempos bárbaros é realmente muito especial. Mas cá entre nós, essa estranha revolução aconteceu comigo aos 33. Espero então, que 33 seja o meu número de aprendizado.

Amém!

Namastê!


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De volta à Yoga

Hoje eu resolvi retomar a yoga. Sozinha, enquanto organizo minhas finanças para fazer um curso direcionado. Aliás, se você que passou por aqui, conhecer algum lugar legal (e não muito caro) onde posso fazer aula de yoga, me conta, vou adorar! Enquanto continuo minha busca, continuo estudando e aprendendo um pouco com quem sabe mais. Mandei um e-mail para um templo budista e fui convidada ao zazen. Respondi com um “muito obrigada, eu irei participar do zazen” e fui direto ao Google verificar do que se tratava.

(Do Wikipedia mesmo…)

Zazen (japonês: 坐禅; chinês: zuò chán (pinyin) ou tso-chan (Wade-Giles)) é a base da prática Zen Budista. O objetivo do zazen é “apenas sentar”, com a mente aberta, sem apegar-se aos pensamentos que fluem livremente. Isto é feito tanto através do uso de koans, o principal método Rinzai, ou o sentar-se completamnete alerta (o “apenas sentar”, shikantaza), o qual é o método da escola Soto[1] O princípio do zazen é o de que uma vez que a mente esteja livre de suas diversas camadas, pode-se realizar a natureza búdica, atingindo-se a iluminação (satori).

Entendi, então, que zazen nada mais é do que a meditação propriamente dita. Sei que a meditação é uma prática que busca “limpar a mente”, ou seja, não pensar em NADA. Muito difícil. Ainda não consegui me concentrar o suficiente para atingir essa limpeza total. É praticamente impossível, para um iniciante, começar a meditar, sem lembrar, por exemplo que nessa semana vence a terceira parcela do IPVA. Mas eu acredito que chego lá. Uma gota por dia, mas eu vou encher um copo. O resultado prático do estudo do Budismo tem sido fantástico. Coisas que me faziam gritar bem alto na sacada para São Paulo inteira ouvir, tomaram dimensões bem inferiores. Talvez essa seja a solução para minha total falta de paciência, já que o floral Impatiens não surtiu muito efeito. Já que descobri um templo budista num local acessível, só me resta saber se vou conseguir chegar a tempo nos dias de Zazen por lá. Espero que sim. Enquanto isso, continuo estudando o Budismo, fazendo Yoga sozinha, lendo o Evangelho Segundo o Espiritismo e o Livro das Religiões de Jostein Gaarder. Porque a manifestação de Deus no mundo é plural.


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Namaste !

Um pouquinho por dia. Esse aprendizado tem sido maravilhoso…
“Namastê é o cumprimento em sânscrito que literalmente significa ‘curvo-me perante a ti’, e é a forma mais digna de cumprimento de um ser humano para outro. O gesto expressa um grande sentimento de respeito, invoca a percepção de que todos indivíduos compartilham da mesma essência, da mesma energia, do mesmo universo, portanto o termo e a ação possuem uma força pacificadora muito intensa.”


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Domando o leãozinho dentro de mim

Está difícil escrever ultimamente. Quando eu tenho um assunto, não tenho tempo, quando tenho tempo, não tenho assunto, e o assunto que surgiu quando eu tinha tempo foi embora. Meus dias têm sido com o furador e marteladas do vizinho na minha orelha. Bastante desafiador para quem está pensando em buscar o tal do Nirvana. Dizem que estão preparando o lugar para abrir um Subway, logo aqui ao lado da escola onde trabalho, o que é bastante esquisito pela falta de espaço. Com Subway ou não, só queria que isso acabasse logo!

Os últimos dias têm sido um pouco tensos, com pessoas se estranhando, pessoas me estranhando e eu adotei essa postura estranha que nunca antes aconteceu na minha vida. Minhas tentativas de controle das minhas emoções mais agressivas têm surtido efeito positivo em mim, e fico feliz em conseguir atingir isso. Domar a mim mesma é uma verdadeira vitória. Geralmente, sou o tipo de pessoa que tende a ter um surto sair gritando todos os palavrões que eu conheço e mais alguns inventados, mas acho que essa fase que só durou 33 anos está acabando. Acredito que esse seja o motivo principal pelo qual as pessoas andam me estranhando, e eu tenho que compreendê-las, afinal, depois de terem passado três décadas me ouvindo surtar, nada mais normal que desconfiem que talvez eu esteja ficando louca. Mas ainda falta um pouco para atingir o autocontrole absoluto, ainda não consegui retomar a dieta e eu sei que eu preciso. Nessa intensa contradição humana, ainda procuro um jeitinho de comer uma barrona de chocolate para não entrar em surto. Um leão por dia e eu chego lá. Talvez, o que falta seja realmente retomar a yoga. Nunca fiz aula de yoga, mas no dia que eu cismei que tinha que fazer yoga, comprei um livro que ensina passo a passo, desde o aquecimento e é dividido em iniciante, intermediário e avançado. Cheguei a conseguir praticar vários ásanas do nível avançado (inclusive o headstand), mas sinto que preciso de alguém para me guiar durante a prática. Alguém que não entenda somente de ásanas e para o que eles servem, mas alguém que me leve no coração da cultura oriental e dê sentido a tudo isso, mas enquanto eu não tenho essa oportunidade, deveria mesmo colocar o despertador para tocar uma hora mais cedo nos dias em que não dou aula de manhã, e dedicar-me aos alongamentos e ásanas, do básico para o avançado. Observando os ensinamentos budistas na Internet e percebendo a íntima relação do Budismo com a Yoga, percebi que eu já havia dado um pequeno passo há alguns anos. É preciso retomá-lo.

Outra questão é a alimentação. Eu confio fortemente no poder dos alimentos orgânicos e na adoção de uma alimentação vegetariana. Eu faço isso? Não. Por enquanto está tudo no mundo de Platão. Outro dia, por exemplo, eu fui num rodízio. Eu não sou vegetariana, não consigo, mas acredito bastante nos benefícios de uma dieta livre de carne vermelha. Eu comeria peixe diariamente, se eu pudesse. Salmão, assim, cheio de Ômega 3, quase todos os dias. Já pensou?

Sei de dezenas de atitudes que posso tomar para ter uma vida mais saudável, não somente fisicamente, mas também no que diz respeito à mente. Por exemplo, tudo isso que eu falei. O próximo passo é conhecer um templo budista. Eu não sei explicar o porquê de ter me identificado tão repentinamente com os ensinamentos budistas, mas está realmente acontecendo. Continuo lendo “O livro das religiões” do Jostein Gaarder e tentando entender as motivações de cada uma delas. Continuo acreditando que uns dos caminhos para a paz no mundo é a retirada das fronteiras religiosas. Não é o único, claro, o principal é a caridade, mas por enquanto não vai dar, estamos bem longe mesmo. Acredito fortemente que se soubéssemos dividir, ninguém sofreria escassez, mas enfim, estamos longe disso. Por enquanto. A solução para todos os problemas é atingir a paz mundial (não estou falando da paz mundial de discurso de Miss. É paz mundial de verdade.) Mas para isso, será necessário nascer no coração humano o respeito das diferenças. Parece que ainda estamos bem longe, mas acho que vale a pena continuar acreditando. Já pensou se a humanidade soubesse enxergar numa boa a existência de uma Igreja Católica, ao lado de uma Sinagoga, em frente a um Templo Budista, com um Centro Espírita na esquina e uma Igreja Evangélica na outra, sem que ninguém se “alfinete”? Acho que seria bem legal.


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Mudanças

Refletindo e aprendendo.

Todos os dias.

Que esse aprendizado não acabe nunca. E que alguma luz me mostre o atalho para o próximo caminho a seguir, o próximo passo e da próxima atitude a tomar. Nem sempre está muito claro, especialmente quando as mudanças são ainda tão recentes… Valores: Mudam conforme as circunstâncias da vida, e uma vez mudados, nunca mais retornam à forma original. A vida é feita de tudo isso… E muito mais.


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A fragilidade da existência

Passei a tarde refletindo sobre o relato de uma mulher, amiga de uma amiga minha, que eu não conheço, que teve uma doença rara que afeta o Sistema Nervoso. Essa doença chama-se Síndrome de Guillain-Barré, e eu nunca havia ouvido falar a respeito antes. Os sintomas são assustadores e a doença evolui rapidamente, causando paralisia e perda das expressões faciais. O relato da Cíntia, a moça que lutou bravamente por sua vida encontra-se no blog a seguir:

http://guillainbarre-cintia.blogspot.com

Li a história inteira da amiga da Tati Sato, a Cintia, muito tensa, e me emocionei bastante. Fatos assim nos colocam em perspectiva de nossas próprias vidas. Somos frágeis e nem sempre estamos no comando. Os acontecimentos que envolvem doenças graves e acidentes parecem realmente complicados sob o ponto de vida mundano. Acredito fortemente que “do lado de lá” tudo faz mais sentido, e sem o véu material, não duvido que seja possível enxergar todas essas coisas como fatos que fazem parte da vida de forma bastante normal e essenciais à nossa evolução. Mas enquanto estamos presos à matéria e dependemos dela para continuar por aqui como aprendizes, é difícil entender o porquê de tantas coisas. No dia em que a vida resolve que o tempo de aprendizado acabou, Game Over, passamos de ano, ou não. Às vezes, é necessário repetir tudo de novo. Só depende de nós. Alguns são capazes de aceitar a brevidade da vida porque têm muita fé em um futuro além da Terra, ou estão mais adiantados no processo de evolução espiritual. Outros não acreditam em nada, e ainda há aqueles que têm fé na vida espiritual, mas porque têm muitas dúvidas, têm medo. Como por exemplo… eu. Domingo passado, levamos um susto. Estávamos voltando da festa de aniversário de três anos do sobrinho do meu noivo, pela Rodovia Índio Tibiriçá, eu acho, quando um carro veio na direção contrária, invadiu duas pistas na contra-mão e ficou frente a frente conosco por alguns segundos, em alta velocidade, antes de voltar para a pista original. É certo que estava sob efeito de álcool ou drogas. Sabe aqueles segundos em que você sente que a alma saiu do corpo e voltou? Pois então, foi exatamente isso que eu senti. Eu não sei exatamente o que passou na minha cabeça nesses poucos segundos em que encaramos uma real exposição da vida ao perigo, mas sei que tinha algo muito a ver com a vida do meu filho de dez anos, sentado no banco de trás, que não percebeu o que aconteceu porque estava cochilando. Eu e meu noivo perdemos totalmente a cor no rosto, eu diria que ficamos bem parecidos com duas folhas de papel sulfite sem lábios (porque a cor da boca também sumiu). Demorou um tempo até que meu coração voltasse a bater normalmente e que eu compreendesse então, o quão frágil é a nossa vida. A experiência de vulnerabilidade vital da amiga da minha amiga durou muitos meses. A nossa durou alguns pouquíssimos segundos, mas o suficiente para lembrar-me o quanto amo estar viva. Acho que não somos eternos nesse mundo e acredito que nossa existência presente seja uma gota no oceano diante a eternidade do espírito. Mas mesmo sendo nossa existência plural, algo me faz querer continuar aqui nas redondezas terrestres ainda por muito tempo. A maioria de nós, humanos, tem aquela sensação de tarefas a serem cumpridas. Às vezes, sinto que o cumprimento da minha missão nesse mundo mal começou. Amo respirar, estar aqui, viver, sentir, ouvir, ver e usufruir de todos os meus sentidos. Tantas pessoas sofreram perdas de partes delas mesmas, e eu sou privilegiada porque sinto que ainda posso controlar um pedaço do meu futuro no que diz respeito a qual tipo de energia que quero criar em torno de mim e atingir as pessoas. Mas não posso controlar todos os acontecimentos. Portanto, a Cíntia – que provavelmente nem sabe que eu existo – me deu hoje, uma oportunidade de ser grata pela minha vida. Ela não sabe, mas hoje fez com que eu – uma desconhecida – passasse a refletir sobre o quão preciosa é a minha própria vida. Provavelmente, depois de ter lido esse relato fortíssimo, eu passarei a valorizar e desfrutar mais as pequenas coisinhas tão boas. Afinal, como é bom abrir os olhos todos os dias e poder fazer coisas simples, como por exemplo, poder sorrir, algo que ela foi impedida de fazer por muito tempo, por fatores alheios à sua vontade. Esquecemos de agradecer à vida pela saúde, pela proteção, por acordar todos os dias pelas manhãs e sermos senhores da nossa própria existência, porque não sabemos até quando seremos. Cíntia, não sei se um dia você vai passar por aqui e ler isso. Espero que não se importe de ter sua história compartilhada por uma pessoa estranha. Mas você me deu hoje uma enorme lição de vida.


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Uma pequena reflexão sobre o primeiro trimestre de 2012

É incrível como acontecimentos na nossa vida nos fazem abandonar quase que totalmente quem éramos e nos impulsiona a uma reforma íntima intensa. O primeiro trimestre está quase no fim, e eu comecei o ano de 2012 sem a menor ideia do que viria pela frente. Quanto aprendizado… A transição foi muito difícil, mas voltar atrás e retomar os valores aos quais antes eu dava tanta importância e hoje perderam todo o sentido, é quase impossível. A vida me deu uma porrada e de uma forma muito estranha, eu preciso agradecer. Obrigada, Jah. Ainda tenho muito o que aprender. Aliás, eu mal comecei e o caminho é muito longo. Mas a porta foi aberta e isso é o que importa.


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Dia Internacional de quem? Meu?

Desculpe… cheguei com mais um texto polêmico. E uma daquelas opiniões um pouco agressivas que às vezes simplesmente não consigo silenciar. Mas eu tenho enxergado algumas coisas com tanta clareza ultimamente que realmente não consigo ficar quieta. Será que minha visão do mundo ficou um pouco negativa demais ou a realidade resolveu realmente dar um tapa na minha cara? Seja como for, é difícil ignorar quando tantas coisas te incomodam. Quando cai o véu e desnuda tantas coisas óbvias, pano nenhum cobrirá novamente. O assunto polêmico da vez é o Dia Internacional da Mulheres. Meu objetivo não é discriminar ninguém, mas coloco em dúvida se eu sou tão especial assim para merecer um dia. Afinal, o que eu fiz de tão extraordinário? Nada. Mas as minhas avós, por exemplo, vejam, elas lavavam as roupas de cinco ou seis pessoas diariamente. À mão. Cozinhavam, limpavam, lavavam, passavam e necessitavam certificar-se de que todos da família estavam bem. O bem estar alheio era total responsabilidade delas. Eu? Ao longo da minha vida mimada, fritei uns ovos, fiz um arroz, sempre odiei trabalhos domésticos e reclamo dos meus baldes transbordantes de roupas sujas. Não lavo minhas roupas no tanque. Jogo tudo na máquina de lavar roupa e ela que se vire. Os dedos das minhas mãos não estão grossos e ralados por isso. Quando estou chateada ou triste, eu grito. Exijo o que eu quero em alto e bom tom porque eu não sou vítima da sociedade opressora dos anos 50 (ou antes deles). Sou “moderninha”. As minhas avós, não. Aguentaram tudo caladas. Meus pais pagaram meus estudos e nunca precisei trabalhar quando era nova. Tive dinheirinho para o cineminha e para a baladinha. Quando eu engravidei, meus pais bancaram tudo e ninguém cogitou a hipótese de falar, “se vira nos vinte” (não nos trinta porque na época eu tinha 23). Sou fresca, manhosa e chata. Aguentei dor de pontos de cesárea (tomei anestesia), num hospital limpinho, tive suporte do meu médico, dos meus pais, de enfermeiras que fizeram tudo para garantir o meu bem estar e do meu filho. Fui muito bem tratada e mimada. Claro que fiquei sensível, chorei olhando para o berço, mas eu tinha um estoque fantástico de fraldas Pampers descartáveis no armário, que ganhei de tantas pessoas! Obrigada! Minhas avós e meus pais lavaram muitas fraldas de pano no tanque… Nesse exato momento me sinto bastante confusa ao lembrar das inúmeras vezes que eu falei “foi tão difícil”. É, o cansaço às vezes, foge do nosso controle, mas nada que fuja de qualquer padrão ocidental da classe média. Hoje é mais fácil ser mãe de uma criança pequena do que há sessenta anos. E hoje é mais fácil ser mulher. Existem vários mimos disponíveis, alguns deles até oferecem um certo status social. Milhares, cremes antirrugas e outros mimos. Sim. somos mimadas demais.

Das minhas avós e minha mãe – que ralaram muito mais do que eu – até o Século 21 no Ocidente:  No nosso país inteiro, e principalmente no Sertão Nordestino, quantas mulheres passaram a vida  trabalhando sob um sol escaldante, em plantações, e que hoje exibem as marcas dessa luta: rugas, câncer de pele, seqüelas físicas e psíquicas, doenças crônicas, dores, perdas, traumas, depressão, fome. Muitas dessas mulheres não estudaram porque não tiveram oportunidade, muitas hoje são as velhinhas invisíveis da sociedade, aquelas por quem passamos com pressa na rua, rápido demais e sem tempo para olhar profundamente nos olhos, aprender algo e ouvir uma história

Na África e no Oriente Médio: Mulher não tem escolha. Em muitos lugares é violentada, está constantemente exposta a doenças, principalmente as DSTs. A epidemia de HIV e outras doenças é algo gravíssimo e sem controle na África. (Ontem eu li um texto e fiquei chocada ao descobrir que o próprio governo espalhou um boato sem o menor fundamento científico, dizendo que as vacinas contra pólio poderiam causar AIDS. E por esse motivo, a pólio, que era uma doença que havia sido erradicada, ressurgiu no Sudão. Isso foi em 2005). As mulheres africanas são vendidas às famílias de seus noivos, em troca de alguma quantia de dinheiro. As mulheres muçulmanas usam burcas, dividem o marido, são proibidas de expôr pensamentos, têm que cumprir regras. Muitas ainda sofrem circuncisão (têm o clitóris extirpado a sangue frio porque são proibidas do prazer sexual), são feitas de escravas sexuais, sofrem estupros (e são culpadas por eles), apedrejadas até a morte por motivos banais (expôr o braço acidentalmente, por exemplo – fato verídico). De alguma forma inexplicável (talvez um milagre divino), muitas delas sobrevivem. Que fortaleza é essa? De onde extraem forças para continuar sobrevivendo? Que perspectiva que têm essas mulheres na vida? Nenhuma. São privadas de quase todos os prazeres da vida, dos DIREITOS HUMANOS, confinadas, passam a vida seguindo o que lhes é dito para cumprir.

Portanto, diante dessa minúscula amostra de atrocidades que acontecem ao redor do mundo com as mulheres, eu digo, são as mulheres, brasileiras e todas as outras do mundo inteiro que sofrem e lutam, por tantos motivos (miséria, opressão, doenças, violência) as merecedoras de um grande presente nesse dia e nos outros 364 do ano, um presente que talvez muitas delas jamais receberão: “Dignidade, Respeito e Direito de viver a vida como humanas”. Gostaria que todas elas desfrutassem, em algum momento da vida, um “feliz dia de viver com dignidade.”