Deep Blue


1 comentário

O Papa levou um tiro a queima-roupa de bolinha de tinta.

E eu também. Entrar em um campo de batalha de guerra de tinta devidamente armada, utilizando um macacão de camuflagem, um colete a prova de balas e uma máscara que cobre o rosto inteiro que faz com que você se sinta o Darth Vader transparente, faz você se perguntar se vai sair dali com algum trauma pós-guerra, igual ao seu bisavô. Mas antes de escavar a trincheira, você recebeu as instruções do sargento: “Sob nenhuma circunstância, retire a máscara no campo de batalha, Soldado! Você pode sair daí caolho! Compreendeu, Soldado Burro?” Compreendi, sargento. E compreendi também que apesar de não ser exatamente uma Barbie que passa o dia de salto como uma lady, essa brincadeira não é para mim. Mas vamos em frente. É lógico que eu fui me abrigar atrás do meu amor, achando que iria encontrar algum tipo de proteção ali. Ledo engano. Ele estava jogando por si só. E ele era do meu time! Aguentei ficar na arena com clima de Segunda Guerra Mundial Colorida durante meros dez minutos. Trabalho todos os dias de tênis, conforme expliquei, estou longe de ser um daqueles exemplares de mulheres com capacidade feminina de sobra para ficar no salto o dia inteiro sorrindo, sem fazer careta. Mas também não sou macho o suficiente para levar quinhentos tiros de bolinha de tinta. Eu vou pra balada de vestidinho e amo maquiagem. Eu pensei que a bala de tinta, ou paintball, atingisse o alvo suavemente e fizesse movimentos fofos em câmera lenta, deixando a vítima colorida. Como Pôneis Malditos. Tudo errado. Elas vêm de todas as direções e desconfiei que tinha truta até da minha pátria atirando em mim. A sensação é de levar um peteleco do demônio. Vários petelecos. E conforme você respira, a máscara de Darth Vader Transparente do inferno embaça, causando claustrofobia e pânico. Você quer tirar tudo aquilo desesperadamente, mas então, a voz e a imagem do Sargento vêm a sua mente e você vê a cara fechada e ouve claramente a frase cuspida, “VOCÊ QUER FICAR CAOLHO, RECRUTA?”, e como se estivesse no Iraque ou Vietnã vê uma imagem do Darwin barbudo e lembra que sua missão biológica é somente preservar e perpetuar a espécie, então prefere deixar a máscara na cara e morrer de pânico por claustrofobia, se for o caso, a passar o resto da vida cantando, “eu sou o pirata da perna de pau, do olho de vidro e cara de mau” (os mais adaptados sobrevivem, lembrou, Charles Darwin?) Mas é claro que antes que eu pudesse terminar esse pensamento, levei um tiro na cara, tornando o Darth Vader transparente em Darth Vader laranja. E quanto mais eu tentava limpar, aquela areia movediça interior piorava. A sensação é de pânico por afogamento. Além de ficar com a visão completamente laranja, baixei a guarda e levei peteleco do tinhoso no braço, joelho e quadril.

Meu GAME OVER veio logo. Como um soldado rendido – e nada macho – levantei a mão em sinal de derrota, abaixei a metralhadora e saí pelo cantinho da arena com o rabinho entre as pernas. Nem deu tempo de fazer uma trincheira. E nem tampouco de sofrer exposição suficiente que resultasse em trauma pós-guerra. Saí da arena, tirei o macacão, analisei todas as marcas roxas provocadas pelos tiros levados, e como uma lady, enchi os pulmões e declarei: “Nunca mais jogo essa porra.”