Deep Blue


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Sociedade dos Poetas Mortos

De repente, eu lembrei do Robin Williams. Você lembra desse filme? É um filme sobre um professor de poesia que tinha como filosofia, livrar-se dos valores ortodoxos e conservadores e incentivar seus alunos a seguirem seus sonhos, objetivos e desenvolver seus próprios princípios. Assisti esse filme há muitos anos. Um dos atores que têm papel de destaque é Robert Sean Leonard, que hoje faz o papel do Wilson, em House. Na época, ele era um molequinho. O filme foi produzido em 1989. Lembro que assisti pela primeira vez na adolescência, e lembro que o final era realmente muito triste. Existe uma cena muito marcante no meio do filme, na qual o professor (Robin Williams), sobe na mesa no meio de uma aula e incentiva seus alunos a fazerem o mesmo. Ele queria mostrar que que as pessoas devem enxergar as situações na vida sob diversas perspectivas. Fica aí implícito, aquela atitude que deveríamos tomar e por diversos motivos, é tão difícil – confesso que eu mesma tenho muita dificuldade para fazer isso. Colocar-se no lugar do outro é algo que realmente consome muita energia. É chato e pode fazer com que nos despirmos a alma na frente de um espelho, expondo-a e conhecendo o que temos de pior e que poderia ser mudado. Por esse motivo desistimos tão fácil disso, pois é realmente amedrontador enxergar a própria alma assim, livre de qualquer disfarce. Mas fico pensando, por que tendemos a adotar um ponto de vista a respeito de variados assuntos e o seguimos quase como uma religião ortodoxa? Por que temos tanta dificuldade em assumir que enxergar sob a perspectiva do outro nos abre caminhos, nos aproxima das pessoas,  pode fortalecer vínculos, relações e até nos tornar seres humanos melhores? Por que é difícil renunciar, abrir mão, tentar enxergar o que o outro enxerga, mesmo que não seja para mudar uma atitude que não queremos, mas simplesmente para compreender, aceitar, ter mais tolerância, mais compaixão? Levanto toda essa questão porque eu mesma encontro muita dificuldade em tomar essa atitude. Afinal, é confortável permanecer onde sempre estivemos, seguindo nossos princípios – por vezes, um pouco deturpados e que fecham a nossa mente – fechados em nosso mundinho, resistimos adotar novos princípios, às vezes por causa um orgulho tão infantil e uma teimosia irracional, aquela mania de achar que mudar não é sinônimo de humildade, e sim de fraqueza ou falta de personalidade. Voltamos assim, para o nosso mundo egoísta, aquele incapaz de abrir mão de qualquer coisa, para que possamos permanecer num pedestal e mostrar para o resto da sociedade que somos os senhores da própria vida. Pra que? Tenho pensado sobre o que se tornou a sociedade e fico assustada. Nossos valores modernos, cada vez mais individualistas, nos bloqueia, nos faz aceitar tudo que vemos na mídia como verdade absoluta, e ficamos com preguiça de pensar. Elaborar uma opinião, um ponto de vista crítico autêntico, sem a pretensão de agradar ninguém em busca de autoafirmação tornou-se algo tão raro quanto levar uma girafa passear de coleira na Avenida Paulista. Queremos ser tudo, ser todos, ter tudo. E com essa preguiça de abrir a mente para novas perspectivas, nossa sociedade contemporânea continua a caminhar em direção ao buraco… E então? Quando vamos começar a subir mesa, no meio da aula?