Deep Blue


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Aí eu cismo que…

… que quero conhecer o Nepal. Isso mesmo. Nepal. Da mesma forma que eu havia cismado com a Austrália, até descobrir que lá moram umas baratonas de vinte centímetros. Comecei a pensar duas vezes. Pensei a terceira quando descobri que o mundo selvagem pode invadir as botas de quem habita Sydney e matá-los sem o menor escrúpulo. As aranhas australianas são muito perigosas e têm por hábito, infiltrarem-se em apartamentos, cantinhos, bolsos, roupas, sapatos, aguardando pacientemente a próxima vítima. Medo. Tenho mesmo. E foi nessa ideia recém-formada de busca espiritual que eu resolvi que um dia eu quero ir para o Nepal. Eu quero ver o Everest de perto. Não, eu não tenho a menos pretensão de querer escalar o Everest porque tenho noção do pulmão que tenho. Mesmo não sendo nada adepta à ideia de inalar nicotina, a menos de dois mil metros de altitude, nos Alpes Suíços, subi de bonde e meus lábios ficaram roxos por hipóxia, em 1996, pensei que eu ia desmaiar e dar o maior vexame Suíço, e olha que eu só tinha 18 anos. Eu não vou escalar o Everest aos 33. Em primeiro lugar porque eu não vou tão cedo para o Nepal, e em segundo, porque eu tenho noção da minha força muscular e principalmente, cardio-vascular. Sou muito saudável, porém, esqueça o topo do mundo, eu só gostaria de ver a majestosa montanha de perto. Quem sabe o que tem ali? Deus? Talvez. Talvez ali mesmo eu consiga senti-lo. Eu sei que eu posso entrar em contato com Deus olhando para a Lua, mas no Nepal deve ser diferente. Acredito que Deus está na Natureza, e não dentro de um templo. Não acho que Deus esteja somente no Nepal e não passa nem a pau perto do Pico da Neblina. Não é nada disso. Acho que é possível senti-lo não só observando a Lua, mas nas coisas mais simples, mas eu sinto essa necessidade sentir Deus em algo muito poderoso. Talvez o Nepal seja uma boa ideia. Outra forma de entrar em contato com a Entidade Maior seria pegando uma onda, como aqueles surfistas que têm uma sorte quase maldita de olhar para o lado e descobrir que está sendo acompanhado por um bando de golfinhos sorridentes. Morro de vontade de nadar com um. Onde teria mais Deus do que isso? Talvez, se no Nepal o ar não fosse tão rarefeito, eu gostaria sim de estar sozinha, no topo do Monte Everest, assim, ouvindo o vento congelante, em silêncio. Acho que lá tem isso. Deus. Mas enquanto não posso, desisto por hora das minhas ideias megalomaníacas e continuo buscando-o em lugares mais acessíveis, mesmo porque quem passou mal a menos de dois mil metros no Mont Blanc, não vai sentir muita paz a 8.844 m de altitude. O Nirvana não deve estar por lá, no topo da montanha. Não pra mim. Mas por que não logo ali embaixo?