Deep Blue


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Manual: Como lidar?

No processo de busca de paz, de Deus e de harmonia entre as pessoas, alguém vai pisar no seu calo, te invadir, massacrar, agir com desrespeito e achar que pode, de alguma forma, te privar de alguém importante e violentar o seu papel com essa pessoa. É difícil manter a serenidade nesses momentos, mas é importante lembrar que a falta de equilíbrio torna essa prova mais penosa e faz com que você deva enfrentá-la inúmeras vezes até aprender, de forma cada vez mais dura. Não entrar em guerra é um ato de coragem, e a serenidade é crucial. Se esquivar do campo de batalha ira mantê-lo em equilíbrio interno e ajudá-lo a pensar com clareza e tomar perspectivas de toda a situação. A dor é quase certa no processo de evolução. Noites mal dormidas, pesadelos, desejos reprimidos de gritar, para quem puder ouvir, toda essa dor. Talvez, metade dessa dor seria curada se você pudesse vomitar tudo o que está sentindo. Melhor não, porque as conseqüências seriam drásticas. Os resultados têm sido meu verdadeiro pesadelo: dores constantes no corpo, principalmente nas articulações, enrijecidas. Estou implodindo para evitar a guerra. Estou enjoada, sem forças, e procurando uma muleta para a “amputação” que estou sofrendo. Falta um pedaço importante da minha alma, que estava aqui, todos os dias, todas as noites. Não sei como conversar com Deus. Conversar, sabe? Não estou falando de ajoelhar diante de nada e recitar orações nas quais às vezes nos perdemos nas palavras e nos desconcentramos nos pensamentos. A verdade é que preciso bater um papo com Ele. Assim, de filha para Pai, sem véus, sem rituais, sem intermédios. Só eu e Ele. Mas a verdade é que eu descobri que nunca soube estabelecer essa conexão. A sociedade me ensinou, mas o método nunca foi eficaz pra mim. Queria poder fazer uma ligação, como fazemos de celular, diariamente. Ou como mandar um e-mail. Mais ou menos assim. “Oi, Deus? Sou eu. Tudo bem aí? Meu filho não mora mais comigo e meu tempo com ele tem sido escasso demais. Eu sei que Você sabe de tudo isso, mas eu ainda não encontrei respostas. Por que? O que eu faço? Onde fica a seção ‘Como Lidar’ do manual? Onde fica a seção ‘como não se irritar’? E a seção ‘como evitar pensamentos ruins’? Ah, preciso urgente da seção ‘Como dormir’, porque Deus, vou te contar uma coisa: está difícil. Aguardo resposta urgente. Obrigada.”


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Tempo de refletir

A insônia dessa véspera de quarta-feira de Cinzas nem é culpa da ausência do meu filho. É culpa da sonoterapia a qual me submeti nos últimos quatro dias de feriado. De uma forma geral, eliminando o fato da falta que sinto dele, foi muito bom. Revi amigos, passei com quem amo, comi muito chocolate sem culpa e dormimos como dois ursos do Ártico Sob Aquecimento Global, com o ventilador ligado. Tudo que fazemos ao lado de quem amamos é especial. Sou grata por ter uma pessoa que é meu companheiro há mais de sete anos e meio. Solidão é uma palavra quase inexistente na minha vida desde o momento em que nos conhecemos e agradeço a Deus por isso (aquele Deus, o Universal, com quem recentemente tenho tentado estabelecer algum tipo de relação). Porém, posso afirmar que a ausência da criança de dez anos que morou no meu útero por nove meses, ainda me machuca. Não da mesma forma como machucou há três semanas, mas dói, sim. É difícil compreender o motivo pelo qual ele escolheu trilhar por outros caminhos, mas procuro respeitar sua decisão, uma vez que é justa, partindo do ponto de vista dele. Ele simplesmente tem o direito de ter escolhido morar com o pai, por mais que a ausência dele torne meus dias estranhos, eu preciso aceitar. Acredito que toda essa reviravolta envolvendo minha busca por Deus não possa ter aparecido em momento mais oportuno que esse. Esse furacão interno está acabando e aos poucos, produz uma certa serenidade. Em primeiro lugar, decidi que é preciso livrar-me da culpa. Eu não quis isso. Eu não pedi que ele fosse embora. Ele sabe o quanto eu queria que ele estivesse comigo, e acho que fui bem clara ao expressar a faz falta aqui, diariamente. Ele sabe que pode voltar se quiser, portanto, a minha culpa deve acabar de forma definitiva em breve, uma vez que resolvi tirar de mim a responsabilidade por essa mudança. Uma vez que tiramos das pessoas as algemas que as prende em nós, termina o carma, o peso, a mágoa. A saudade diária é algo que nunca vou me livrar, mas é necessário aliviar do peso da responsabilidade por essa mudança para seguir em frente. Não importa o que acontecer daqui pra frente, existe algo imutável nessa história toda. Ele sempre será o meu filho. O que posso fazer agora é muito pouco: pedir luz para guiá-lo nessa decisão, e acima de tudo, proteção, pois toda mãe se sente completamente impotente longe do filho. Isso é algo que amedronta todas as mães do mundo, ainda mais quando seus filhos são ainda crianças. Ele sabe fazer muitas coisas sozinho, mas sei que não estou ao lado dele o tempo todo – agora menos tempo ainda – para lhe mostrar o caminho do bem, do certo, do justo e principalmente, o que julgo mais seguro. Sei que ele vai aprender centenas de coisas sem a minha orientação, ora por orientação de outras pessoas quando eu não tiver presente, ora sozinho. É claro que sinto meu papel invadido, é claro que tenho a sensação constante de ser mutilada, porém, uma vez que foi esse o caminho pelo qual ele mesmo resolveu trilhar, não há muito o que eu possa fazer, a não ser guiá-lo à distância e confiar nas energias do Universo. Toda proteção do mundo para você, vinte e quatro horas por dia, meu pequeno. Cuide-se. Estarei aqui, sempre que precisar.


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As Horas

Ele não está aqui. E não adianta chorar porque ele não vai estar aqui até o ano que vem. Quem disse que isso nunca aconteceria comigo? Acontece com todas as mães solteiras ou separadas, por que eu achei que sairia ilesa? Todas as festas de fim de ano juntos, e de repente, ele não está mais. Ele descobriu que tem outra família, tem que viver outras coisas. E por mais que eu saiba que ele não me pertence, meu coração de mãe fica despedaçado. Como eu não percebi que um dia aconteceria? Sei que parece um drama, ele não foi embora, só foi viajar. Mas é a segunda vez na vida dele em que vai sem a minha companhia, ou a companhia dos meus pais. É estranho. “Não precisa ligar, ele está bem.” Eu sei que ele está bem. E quando liguei ontem, depois de ter passado horas com o coração apertado, esperando o avião pousar com segurança, ele diz, “Oi, cheguei. Preciso ir para a piscina, agora, mãe. Tchau.” E desligou o celular. Como um homem de negócios muito ocupado com o retângulo azul cheio de água no hotel, meu pequeno não podia me dar atenção. Só me resta esperar passar as horas e acreditar de olhos fechados que está tudo bem. Peguei algumas roupas, coloquei na mala para passar alguns dias na casa do meu noivo, assim eu me mantenho desligada do assunto. Tenho dormido no quarto dele (não por drama, mas por uma mera oportunidade de dormir numa cama de verdade, já que meu leito se tornou um desconfortável sofá-cama há cinco meses), mas é estranho. Todos os Lego-Technics montados na prateleira, a gaveta com as “engenhocas”, a TV e o DVD, a escrivaninha, os estojos, os lápis de cor. É tudo dele. E eu ali no meio, me sinto completamente orfã. Continuo disfarçando. “Vamos ao cinema? Vamos pra balada? Vamos fazer um programinha a dois?” Mães cansam durante o ano, às vezes passando meses pedindo um tempinho para namorar, para assistir um filme “chato”, para passar somente um dia sem ouvir seu filhote gritando “mãaaae, venha ver o que eu montei”, para ler um livro sem ser interrompida, e quando ele vai embora, a casa se torna um vazio silencioso e triste. Ontem eu chorei de angústia até receber notícias de que ele estava bem, em outro estado brasileiro. Parece tolice, mas continuo aqui, esperando as horas passarem. Fiquei triste, sem fome, sem vontade de fazer nada. Fiquei um dia perdida, deitada na cama, dormindo sem parar. Parece tudo exagero, eu sei, mas acho que poucas pessoas que não são mães entenderiam. Ele volta, eu sei. Em 2012. Está logo aí, eu sei… mas enquanto ele não volta, eu vou inventar mil desculpas para não ver as horas passarem…